A historia do parque iniciou com o aterro da Lagoa do Boqueirão em 1799, no governo do Vice Rei Luiz de Vasconcelos, com terras do desmonte do Morro das Mangaberias vizinho ao local, onde foi construido o Passeio Publico por Mestre Valentim.

1790 -Leandro Joaquim
O Mestre projetou o parque em estilo francês, com alamedas retas com plantio ao longo e o ornamentou com fontes, estatuas e pavilhões.
Criou um portão de acesso, em estilo rococó. Daí, uma alameda central conduzia o visitante à Fonte dos Amores e ao terraço, de onde se descortinava o mar. Este terraço ou belvedere acima do nivel do parqu, permitia que se apreciasse a baia da Guanabara.
Da decoração original de Mestre Valentim, o parque ainda tem o Portão Monumetal, o conjunto da Fonte do Jacaré e as duas piramides ou obeliscos.
1791 - Francisco Bitancourt
Cerca de 80 anos depois o desenho do parque foi alterado pela reforma promovida em 1863, pelo paisagista frances Auguste Marie Françoes Marie Glaziou, a pedido do Imperador D. Pedro II, que alterou o traçado, criando aleias sinuosas, lagos e pontes ao gosto romantico, um estilo de jardim ingles.
Apesar das modificações Glaziou preservou os elementos arquitetônicos e artísticos originais do Mestre Valentim. A implantação do projeto se iniciou em 22 de janeiro de 1861 e foi inaugurado em 7 de setembro de 1862, quando se comemorava o 40º aniversario da Proclamação da Independência.
A partir de 1938 o parque passou a ser um patrimônio nacional com seu tombamento pelo IPHAN. A restauração do Passeio Público promovida em 2004, objetivou resgatar o paisagismo implantado por Glaziou e as obras de arte ali existentes.
O primeiro passo da restauração que aconteceu em 2001, foi a elaboração de um relatório que constava de uma pesquisa histórica e iconográfica do parque, estudos específicos, como a estabilidade das piramides criadas pelo Mestre Valentim e da infra-estrutura implantada, tanto de água como de energia.
Em 2003 o projeto executivo de restauração foi
enviado ao IPHAN ( Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional), para aprovação e indicada uma exigência, a de se realizar a pesquisa arqueológica, durante a execução da obra.
O longo período de dois anos entre a
finalização do projeto e a execução da obra, contribuiu para o agravamento da
degradação do parque, o que motivou inúmeras críticas.
Finalmente em 28 de dezembro de 2003 foram
iniciadas as obras com a interdição do
parque, sendo devolvido ao público no dia 14 de dezembro de 2004.
Portão Monumental
O Portão que dá acesso ao Parque é uma dos principais obras de arte de autoria do Mestre Valentim do século XVIII. O Medalhão de D. Maria I, um belo registro da arte
barroca pública carioca. Durante a pesquisa icnográfica se verificou que o portão criado pelo Mestre Valentim, havia se deslocado para o interior do parque, em data desconhecia.
O seu retorno ao alinhamento da rua do Passeio, também não foi documentada. Observando a presença de tijolo furado e a argamassa de cimento na composição estrutural dos pilares, podemos supor que tenha ocorrido na década dos anos cinqüenta, informação até então não documentada pelos pesquisadores que estudaram o Passeio Publico.

1835 Karl Von Theremin
Assim somente as partes metálicas são originais do período barroco do Rio de Janeiro.

Georges Wambach 1948
1955
1957
O portão foi executado em ferro forjado, sem soldas, em peças de encaixe. Em 2004 se encontrava danificado pela corrosão. A alvenaria do pórtico havia perdido parte do emboço. O medalhão de bronze e o frontispício de ferro, estavam pintados com tinta cinza grafite, descaracterizando todo o conjunto.
As peças foram decapadas ( retirada todas as camadas de tintas). Os elementos decorativos encontrados serviram de molde para a reprodução dos faltantes, e os
rejuntes de cimento foram substituídos
por argamassa de cal e areia .
O frontispício que havia sido retirado pela Fundação
Parques e Jardins em 1996, para o acesso de caminhões no parque, que se encontrava num deposito, foi instalado.
Esse portão na sua parte metálica é original e tombado pelo IPHAN.
O requinte do trabalho de Valentim surgiram com a remoção das inúmeras pinturas. O detalhe dos cabelos e a perfeição da vestimenta da Rainha Maria I, em bronze pintada com folha de ouro brilharam .
Rostos com traços negros expuseram o cuidado das peças de encaixe; as florões de bronze demonstraram o esmero da fundição realizada na Casa do Trem, no período do Brasil Colonia.
Fonte dos Jacarés, dos Amores.
Realizada por Mestre Valentim, a Fonte é composta por um mural. Na face uma voltada para o parque esta a Fonte do Jacaré e do outro lado a Fonte do Menino. Os jacarés, em 2004 estavam cobertos por uma espessa pintura. Parte de sua calda, dentes e língua havias sido quebradas e furtadas.
Uma exigência do Instituto Histórico do Patrimônio Histórico Nacional ( IPHAN) era a realização de pesquisas arqueológicas no parque durante as obras no parque.
Uma das primeiras ações apontavam que nas fotos antigas a bacia da Fonte de Jacaré tinha cerca de 80 centímetros de altura e a conhecida era dimensão inferior.
As escavações expuseram trechos da bacia de gnaisse danificadas que foram refeitas.
Para manter a dimensão origianal da obra do Mestre Valentim foi construída uma parede de contenção a fim de privilegiar
a integridade do parque e o conjunto escultórico.
Partes danificadas da escultura do Jacaré foram modeladas, fundidas e repostas, alem de retirada toda a pintura que havia sido aplicada sobre o bronze. A limpeza executada nos jacarés revelou o hiper-realismo do artista barroco carioca.
Em 2004 a escultura da Fonte do Menino também estava danificada. Os braços do menino estavam cortados e a faixa
com a inscrição “Sou útil inda brincando” desaparecida, a mesma instalada em 1994.
1992
1994

2002
A fim de preservar a
obra de chumbo de 1840 - reprodução da original do Mestre em mármore do final do seculo XVIII - foi executada uma
réplica em bronze e instalada no parque, A escultura em chumbo, até hoje permanece guardada em deposito da Prefeitura garantindo a sua salvaguarda.

2004

2004
O terraço ou belvedere
O terraço criado pelo Mestre Valentim sofreu varias alterações. No período colonial existia uma
balaustrada e ficava à beira-mar, com ondas quebrando junto ao paredão. Nas extremidades haviam dois pavilhões, Tinham forma quadrangular e eram decorados conchas e penas de pássaros alem de murais de Leandro Joaquim. O abandono do parque e a frequência de ressacas deteriorou os pavilhões, que foram demolidos em 1817.
A vinda da côrte portuguesa e a Independência do Brasil não mudaram a situação do Passeio Publico,somente durante a Regência, em 1835, é que foram colocadas grades de ferro. e construído dois pavilhões octogonais no terraço, em substituição aos antigos.

Ludwig e Briggs 1845
Apolo - 1865 - August Stahl, Ludwig
A partir de então, o terraço do Passeio se tornaria um dos pontos preferidos do parque.
Em 1870, foi instalado no local um bar volante, onde tocava todas as noites uma banda alemã e era servida cerveja da Guarda Velha, uma das fábricas mais antigas, a 400 réis a garrafa. O cliente podia saborear a bebida enquanto apreciava a bela paisagem da baía da Guanabara.
A abertura da Avenida Beira-Mar, em 1906, afastou definitivamente o mar, e também causou a demolição da balaustrada do terraço, decretando seu fim enquanto área de lazer, pois do som de ondas quebrando passou-se ao barulho de automóveis e outros veículos, perdendo dessa forma o principal atrativo.
Restam algumas imagens recordando essa época mais tranquila, e não deixa de surpreender que o terraço do Passeio, cuja rua em frente tem um dos piores tráfegos de toda cidade, pudesse um dia ter sido local tão tranquilo, e, quem diria, à beira-mar.
O terraço e seus torreões coloniais passaram incólumes a todas reformas urbanas do período, mas não resistiram a algum administrador seguinte que o demoliu .
O terraço por várias décadas foi a beira mar e era um dos lugares mais agradáveis do Rio antigo.
Para a exposição de 1922, do Centenário da Independência foi construído mais ou menos em seu lugar o Teatro e o Cassino Beira Mar, demolido no governo do prefeito Dodsworth, e que nas recentes obras de restauração do Passeio suas fundações e partes dos subsolos foram redescobertos por arqueólogos a serviço da prefeitura
Na iconografia disponível do parque, verifica-se modificação na balaustrada, não dispondo ainda de evidências que definam o período em que foi implantado o formato que chegou aos nossos dias, por hipótese, crê-se ter sido instalada após a demolição do teatro-cassino em 1938.
Trata-se de uma construção de blocos de gnaisse em cantaria. Apesar da rigidez da construção, esta teve metade de sua de extensão depredado por vândalos, para os furtos dos balaústres que formavam o conjunto, configurando uma das maiores perdas do parque.
Entre os anos de 2000 a 2004 foram furtados do parque 131 balaústres. Para recompor o conjunto optou-se por formar um pequeno conjunto original nos lados da Fonte dos Amores e instalar um novo gradil entre os pilares no mesmo padrão do que circunda o parque. O cercamento envolveu a Fonte do Menino, a fim de distanciar o visitante da escultura sem contudo impedir a sua visibilidade.
Pirâmides ou obeliscos
Estes elementos formam um cenário para a Fonte do Menino. São construídas em blocos de gnaisse esculpidos, superpostos com rejuntes aparentes, onde facilmente ocorreram brotações. Tem-se registro das mesmas cobertas por eras, facilitada pelo acúmulo de material orgânico.
A partir de 1998 a pirâmide da esquerda vista do terraço, encontrava-se inclinada em direção a Fonte do Jacaré e soterrada até
a primeira fiada de blocos de pedras (comparando-a com a pirâmide direita). A borda do lago que
circunda esta pirâmide vinha cedendo, causando o transbordamento de suas águas,
para a área gramada. Verificou-se também
a constante perda de espécies vegetais,
principalmente de árvores centenárias.
Em 2000 quando se iniciou a obra de construção da garagem subterrânea na
Praça do Monroe, ao lado do Passeio Público, foram feitos o escoramento desta pirâmide
e o acompanhamento das alterações do lençol freático. Durante o
período em que se elaborava o
projeto executivo, as possíveis causas foram levantadas ao nível de hipóteses, por falta de estudos específicos para o
diagnóstico da causa do problema.
Durante a obra de
restauração do Passeio Publico, a empresa contratada realizou um
monitoramento ao longo de seis meses,
onde não foi constatada nenhuma alteração, concluindo-se que o deslocamento
encontrava-se estabilizado. Após a
restauração da Fonte dos Jacarés, observou-se
pelo nível de água da bacia que este conjunto também está
inclinado na mesma direção em que
a pirâmide esquerda, reafirmando a
suspeita de ter ocorrido que ocorreu alguma alteração no terreno.
Os serviços
realizados nas pirâmides restringiram-se a sua conservação. Realizou-se a
lavagem das pedras, a retirada das pichações e brotações e desobstruído
o ramal de água por onde esta jorrava da pirâmide. A pirâmide inclinada está
com o orifício abaixo do nível da água.
Elementos de argamassa
Os rocailles, conjunto escultórico imitando pedras em formato de banco
provavelmente, implantado na reforma de
Glaziou, são modelados com
argamassa composta de cal, saibro e areia.Foram identificados três tipos de danos. O primeiro decorrente do
crescimento das raízes de uma árvore, o segundo por brotações nos trechos de
infiltração e o terceiro em função de reparos na rede de ligação de água da
cascata.
A primeira
intervenção neste conjunto foi à lavagem para remoção do limo incrustado,
descobrindo as fissuras e
limpando as fraturas. Foram
realizadas consolidações e reconstituição de todo o conjunto conforme o
original, a fim de recompor visualmente o trabalho artístico.
Monumentos de ferro fundido
As esculturas que compõe o conjunto das estações do
ano são obras do escultor Mathurin Moreau
provenientes da França das fundições de Val D’Osne. Para preservação do conjunto de todas as
esculturas e pedestais foram decapados,
devido ao excesso de tinta que encobriam os requintes da fundição e aplicada
nova pintura para proteção.
Os postes de
iluminação do Passeio Publico são característicos do inicio do século XX.
Receberam o mesmo tratamento externo das
esculturas de ferro, porém exigiram remoções delicadas no seu interior devido
às brotações.
Durante a obra se realizou uma nova construção de rede
de iluminação e introduziu uma luminária de policarbonato de padrão similar ao que existia no parque
nos últimos anos, com o intuito de garantir sua durabilidade e luminosidade.
O gradil de fero
fundido que circunda o parque foi instalado provavelmente em 1968. Vândalos, no inicio desta década, insistiam
em invadir o parque pela grade à noite, e depois diuturnamente, pois o
espaçamento entre as barras verticais
facilitava a passagem irregular. Com essa constatação o gradil foi
reformulado e diminuiu-se o espaçamento
entre as barras ao longo de todo o perímetro do parque
Monumentos em bronze
O Passeio Público tem no seu acervo várias peças em bronze. Na intervenção realizada por Pereira
Passos, foi modificada a ponte de argamassa, houve a instalação do quiosque,
aquário e café-concerto ( estes dois últimos demolidos), e da escultura de Nicolina Pinto do Couto, intitulada
“Tritão”. A escultura instalada em 1905 foi furtada em 1994. Por se tratar de peça representativa no
Passeio, da primeira escultora
brasileira e a primeira a ser
furtada do Parque, foi reproduzida a obra de Nicolina.
O parque desde 1994
vinha sofrendo pelo abandono. Entre 2001 e 2004, desapareceram
os bustos de Olegário Mariano, Bittencourt da Silva, Hermes Fontes,
Moacir de Oliveira (recentemente recuperado), Júlia Lopes e do Mestre Valentim.
Em homenagem ao
idealizador do primeiro parque público do Brasil, foi realizada a sua réplica.

O Monumento a Castro Alves, obra de Eduardo Sá, tinha o seu pedestal de pedras
coloridas, em processo de desfolhamento devido à infiltração de água sob a pintura impermeabilizante. Foi executada a remoção manual de toda a tinta e as
obturações necessárias na pedra.
Os bustos mudaram sua localização, removendo-os das aléias principais, com
o objetivo de privilegiar a perspectiva
do espaço idealizado por Mestre Valentim respeitando o projeto paisagístico
de Glaziou.
Guarda Corpo - Ponte de ferro
É um trabalho artístico realizado
pelas Fundições do Val D’Osne, provavelmente adquirida por Glaziou para adornar
o parque. Trata-se de um guarda
corpo em ferro fundido imitando troncos
de arvores entrelaçados, composto por
módulos simétricos que encaixados formam dois conjuntos.
Ambos encontravam-se seriamente danificados e também que a mesma havia sofrido uma intervenção anterior
onde se procurou imitar a forma original
com argamassa de cimento e areia.
Guarda Corpo - Ponte de argamassa
Essa peça é do periodo Prefeito Pereira Passos. A ponte teve o seu guarda
corpo modificado na obra de restauração.
Inicialmente construído imitando troncos de bambu, foi recuperada nos anos 80 ou 90 com tubo de
ferro galvanizado e tela de nylon pintada na cor deste vegetal. Este guarda corpo de tubo sofreu intensa
corrosão até o seu desabamento em 2001.
Durante a execução da obra, foi apresentado ao IPHAN um projeto de restauração de acordo com o
registro iconográfico disponível, sendo este não aceito devido a pouca
definição da imagem. Foi então sugerido um guarda corpo que não interferisse
visualmente no parque e sua substituição quando se obtivesse maiores
informações.
Obra Civil - Recuperação do lago
O Passeio Público se caracteriza
pelo conjunto de obras de arte e pelo paisagismo romântico introduzido por
Glaziou. A execução do lago artificial
foi um arrojo na época, exatamente onde foi aterrada uma lagoa para surgir o
Passeio Publico.
O passar dos anos e as alterações no terreno relatadas quando se descreveu a
inclinação da pirâmide, permitiram infiltrações no lago que dificultava a
manutenção do seu nível. A obra
recuperou o fundo, as laterais e a borda, sem contudo remover as camadas de
concreto executadas posteriormente à sua
implantação no século XIX.
Obra civil – Rede de drenagem
A infra-estrutura do parque é uma
incógnita, enquanto não existir cadastro das redes instaladas. Durante a pesquisa para elaboração do projeto
foram levantadas várias interferências no parque sem que definisse alguma rede de drenagem
anterior.
Durante a pesquisa
arqueológica descobriu-se caixa, tubulações inoperante que não diagnosticava
uma rede para esse fim. A alteração do
terreno, as constantes inundações e o direcionamento das caixas de areia terem
o deságüe no lago, formularam a necessidade de se construir uma nova rede para
esgotar a água pluvial do parque.
Esse texto é uma reprodução da publicação LEITURAS PAISAGÍSTICAS: TEORIA E PRÁXIS. Volume 1: (Re)construindo a paisagem do Passeio Público: historiografia e práticas projetuais. Restauração e conservação: o caso particular das obras de arte do Passeio Público. Rio de Janeiro, EBA/UFRJ, 2006. ISSN 1808-054