O Parque Nacional do Rio de Janeiro foi
criado através do Decreto N° 50.932, emitido pela Presidência da República em 6
de julho de 1961, com aproximadamente 3 200 ha. A diversidade natural, foi sem
dúvidas um dos atributos importantes para tornar a área um Parque Nacional. Além disso, a ocupação humana ao longo de
quatro séculos disponibilizou uma herança histórico-cultural, que passou a ser
reconhecida, no mesmo ano, como patrimônio a ser preservado, já que a Floresta
da Tijuca acompanha a história da cidade do Rio de Janeiro desde o período
colonial. Através do processo 762-T-1962, o parque foi tombamento no Livro do
Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico na Inscrição nº 42, de 27 de
abril de 1967, que o indica como área natural-cultural, como um todo, e lhe
confere, por meio do instrumento legal do tombamento, o status de patrimônio
protegido.
Em 2012, a Cidade do Rio de Janeiro
passa a ter reconhecimento do valor da sua paisagem urbana como "Rio de
Janeiro: Paisagens Cariocas entre a Montanha e o Mar", tendo recebido o
título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (UNESCO) de Paisagem Cultural, cujo área do Parque Nacional e seus
elementos introduzidos como paisagem cultural foram também considerados.
Trata-se, portanto, de um patrimônio
cultural, por sua história, ainda que seja uma floresta, com cascatas, jardins
paisagísticos, rios, fontes, grutas e matas.
A Floresta da Tijuca foi reflorestada no
século XIX após anos de desmatamento e plantio (principalmente de café). O
reflorestamento foi uma iniciativa pioneira e a pessoa responsável pelo
reflorestamento, apontada pelo Imperador Pedro II em 1861, foi o Major Gomes
Archer, o primeiro administrador.
O segundo administrador, Barão Gastão
d'Escragnolle continuou o replantio de 1874 a 1888, e criou espaços, como um
parque para uso público, inserindo espécies exóticas, pontes, fontes, lagos e
locais de lazer com auxílio do paisagista francês Augusto Glaziou. A obra do Barão pode ser admirada ainda
hoje, nos resquícios de rocailles imitando pedra roliça, nas fontes, nos mirantes e lagos que batizava com nomes de
suas predileções literárias – caso da gruta “Paulo e Virgínia” e a do
“Excelsior”, em homenagem a Bernardin do Saint Pierre e Longfellow,
respectivamente – ou de familiares, como a Ponte da Baronesa, Cascata Gabriela
(sua irmã) e a Vista do Almirante (homenagem ao avô, Almirante Beaurepaire).
No século XX, Raymundo Ottoni de Castro
Maya, administrou a floresta de 1943 a 1946, fez ressurgir o parque, que havia
ficado esquecido durante os primeiros anos da República. Em parceria com o
arquiteto Vladimir Alves de Souza e com o paisagista Roberto Burle Marx, Castro
Maia recuperou a floresta introduzindo obras de arte, edificações e recantos.
Foram também implantados serviços e sanitários e restaurantes.
Esse levantamento se dedicará as fontes existentes,
identificadas como do século XIX e as do século XX.
Apesar da pouca documentação, a pesquisa
iconográfica se dedicou a identificar os elementos decorativos, a fim de
resgatar a originalidade dessas fontes, atendendo ao tombamento de 1967.
As fontes século XIX
1
1. Fonte Midosi
A história dessa fonte está ligada a
residência do Major Manuel Gomes Archer no sitio Midosi ( local do restaurante
“A Floresta”) antiga propriedade de Guilherme Midosi, cafeicultor, que ali residiu,
até 1856, quando passaram suas terras para a Fazenda Imperial.
Nessa pesquisa iconográfica
foi possível identificar que a fonte possuía uma escultura neoclássica até os
anos de 1960. Na segunda foto aparece a parede azulejada e saída direta da agua,
o que permanece na foto de 1998. Em 2014 se verifica a inclusão de outro
elemento, uma cara de leão de cimento.
Anos de 1940 durante a gestão
de Castro Maya
Anos de 1960 – s/identificação
2. Fonte do Vaso na Cascatinha
As
fotos dos anos de 1940, permite a hipótese que essa fonte se encontrava em
outro local diferente, pois não há possível visão do céu atrás da fonte, bem
como o apoio foi modificado. A situação atual que pode ser constatada na
segunda foto, com um painel de azulejos e
torres laterais.
Anos de 1940
3.
Fonte
da Medusa
Foi instalada
inicialmente no trecho da curva em frente a da Vista Chinesa, a peça foi
transferida para uma murada construída, provavelmente nos anos de 1940, junto
com o guarda corpo de proteção do monumento.
Cartão postal s/data
4. Fonte do Humaitá ( perto da gruta Paula e
Virginia )
A primeira foto apresenta uma escultura neoclássica
sobre o pedestal, nos anos de 1940, com uma rosácea e tubo para o jorro da água.
Seguindo a hipótese que essa fonte é anterior a gestão do Gestor Castro Maia, a
instalação da bacia de mármore foi a inclusão executada por esse gestor, como
todas as outras criadas por ele. A foto atual apresenta a fonte sem a
escultura e a rosácea, contudo ocorreu a inclusão de outro
elemento, uma cara de leão de cimento.
5. Fonte da Hípica
A fonte é uma das mais simplórias, unica no setor da Floresta sem a bacia de mármore, incluída no período de Castro Maya.
As fontes século XX
I. Na
Floresta da Tijuca
De acordo com a matéria publicada por
Castro Maya - Prestação de Contas, Administração - no Diário de Notícias de 14
de setembro de 1947, “ foram construídas pontilhões, fontes, muralhas de
sustentação e colocados inúmeros bueiros”.
As banheiras de mármore que foram
introduzidas no Parque, são de origem desconhecidas até hoje, porém
diversas fontes de água, foram montadas a partir dessas peças e pode-se observar pelo de
estado de conservação que se encontram atualmente, que provável a instalação, tem
cerca de 50 anos
de exposição.
Outra característica
para identificar as fontes como desse período, foram o conjunto de fontes e
bancos revestidos de azulejos ou cacos, ora com motivos florais ora por motivos
geométricos em azul, que pode ter sido fabricada no Brasil ou mesmo ser portuguesa.
1. Fonte
dos Azulejos
Pequena
construção, que a partir de uma calha, direciona a água do riacho. Toda revestida
por cacos de azulejos, é o destaque num recanto criado por uma pequena murada
de blocos de pedra.
2.Fonte
abaixo da Ponte Job de Alcântara
Fonte composta por um mural recortado,
revestida com azulejos florais com destaque ao peixe estilizado em porcelana
pintada. A água é recolhida através de uma banheira de mármore de Carrara com a
figura de dois sátiros na sua frente.
3. Fonte
jardim da Capela Mayrink
Fonte composta por um mural recortado,
revestida com cacos de azulejos com destaque a figura estilizado em argamassa.
A água é recolhida através de uma banheira de mármore de Carrara com a figura
de dois sátiros na sua frente.
4. Fonte do Largo do Bom Retiro
Fonte composta por um mural recortado,
revestida com azulejos decorados, diferente da anterior, com destaque a figura estilizado. Essa fonte tem linhas semelhantes a existente no jardim da
capela Mayrink.
5. Fonte
do largo da Cascatinha
Fonte composta por um
mural de pedra, onde está instalado um painel de azulejaria com o mapa da
Floresta, e uma banheira de mármore. A água jorrava diretamente na banheira sem nenhum elemento decorativo. Recentemente foi inserida uma “
cara de leão” de cimento.
6. Fonte
do Lago das Fadas
Fonte composta por um mural revestido por
seixos rolados e uma coluna revestida ao redor com azulejos com uma pia redonda
de mármore. Possuía originariamente um
dragão alado em bronze de onde vertia água. O Lago das Fadas, nome dado por
Escragnolle, tem paisagismo original de Glaziou, no antigo charco. Foi
represado e restaurado pelo arquiteto Vladimir Alves de Souza, durante a gestão
de Castro Maya.
7. Fonte Wallace
Fonte criada a pedido do filantropo
inglês Richard Wallace, de autoria de Auguste Lebourg, para fornecer água ao
povo francês. Proveniente das Fundições Val d’Osne, essa fonte é uma das peças
mais difundidas em todo o mundo, sendo que a cidade do Rio de Janeiro, conta
com três exemplares. Trata-se de uma peça em ferro fundido ornada por quatro cariátides que representam a bondade,
a simplicidade, a caridade e a sobriedade e sustentam uma cúpula ornamentada
com escamas de dragão, terminando numa ponteira. A água que sai do interior da
cúpula e cai numa pequena bacia colocada aos pés das cariátides.
As Fontes Wallace chegaram ao Brasil
através do Prefeito Pereira Passos, em 1906. Há relatos da presença dessas fontes
no Passeio Público, na Ilha do Governador, na Avenida Rio Branco (no pátio
interno da Caixa Econômica Federal no Centro do Rio); e no bairro de Santa Cruz. No Jornal do Brasil de 8
de março de 1977, cita que na gestão de Castro Maya o Jardim dos Manacas foi
recuperado e instalada a Fonte Wallace, talvez a transferida da Caixa
Econômica.
Na Floresta da Tijuca o registro dos
anos de 1940, permiti verificar a pintura da
vestimenta das cariátides, para evidenciar as figuras.
II. Na
Estrada da Castorina
As fontes instaladas na Estrada da Castorina,
apresentam características semelhantes, isto é, foram construídas com blocos de
granito, com bicas sem elementos decorativos, e uma bacia para esgotamento.
No jornal “Diário de Notícias” em
janeiro de 1938, na gestão do Diretor
Geral de Viação e Obras Públicas, Sr. Edson Passos, noticia a construção de um vasto
plano na localidade conhecida como Mesa do Imperador, como um terraço para
turistas fazerem refeições e admirar a cidade. Nessa época desaparece o
caramanchão rustico, sobre uma mesa de madeira, instalado por Pereira Passos e aparece uma fonte em frente a mesa.
Revista da Semana 1906
1. Fonte do Imperador
Fonte composta por mural com uma bica e uma bacia. Confeccionada em pequenos blocos de pedra de granito na murada de contenção do local .
2001
1 2. Fonte das Duas Bicas
Fonte composta por um reservatório, um mural com duas bicas e uma bacia. Confeccionada
em blocos de pedra de granito em cantaria, formando um recanto no caminho do
riacho.
1 3. Fonte das Três Bicas
Com dimensão superior a anterior, a fonte é composta por um reservatório, um mural com três bicas e
uma bacia, semelhante a anterior.
1 3. Fonte de Pedra I
Fonte composta por
mural com uma bica e uma bacia. Confeccionada em blocos de pedra de granito no
caminho do riacho.
4.
Fonte
de Pedra II
Fonte de conjunto semelhante a anterior contudo com blocos pequenos de pedra.
Fontes
construídas depois de 1967 ( Tombamento)
Na pesquisa se verificou que os anos de
1970, a conservação do parque esteve deficiente, com inúmeras matérias em
jornais sobre o descaso e desgaste dos recantos e monumentos do Parque. No Jornal do Brasil de 18 de dezembro de
1980, anuncia a reabertura da Floresta da Tijuca, com a substituição do portão
do Museu do Açude, a restauração da Capela Mayrink e da Fonte Wallace, a reforma
dos sanitários públicos, a pintura dos gradis, a limpeza dos lagos, o asfaltamento das
vias principais, a construção de churrasqueiras, a instalação de bancos e bicas.
Esses serviços foram promovidos pela fábrica Souza Cruz, numa parceria com o IBDF ( Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal). Provavelmente esse período foram construídas as fontes abaixo,
caracterizadas por utilização de azulejos comerciais da época, tentando uma
reprodução das fontes do período de Castro Maya, um salvo histórico para o
parque.
1 1. Fonte
próxima a Mesa do Imperador
1 2. Fonte
do Lago do Açude
1 3. Fonte
da Gruta Paulo e Virginia
4. Fonte
do Recanto dos Pintores