Ao completar 100 anos no mês passado
(Agosto/2014), o bairro do Grajaú ganhou de presente a transformação de parte
de suas ruas em Área de Proteção do Ambiente Cultural (APAC). A medida protege
as características arquitetônicas e paisagísticas da área delimitada, além de
promover o tombamento de ícones do bairro como a Igreja Nossa Senhora Perpétuo Socorro, a Capelinha da rua Grajaú, a Escola Municipal Duque de Caxias, o Batalhão do Corpo de Bombeiros da rua Marechal Jofre e a Praça Edmundo Rego.
José da Silva Azevedo Neto nasceu no Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1908. Arquiteto e urbanista, era funcionário público por quase duas décadas (
Boa parte de seus projetos já não guardam mais traçados ou elementos
originais em virtude de sucessivas intervenções, efetuadas sem que houvesse o
devido cuidado com características hoje reconhecidas e valorizadas pelos órgãos
de preservação do patrimônio histórico cultural carioca.
Azevedo Neto faleceu em 1962 e, em 2006,
por ocasião da realização da II Mostra Internacional Rio Arquitetura-MIRA, a
Prefeitura do Rio, por meio da Fundação Parques e Jardins,
juntamente com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RJ) promoveram a exposição
"Memória do Paisagismo Carioca - Arquiteto Azevedo Neto 1930/1950.
A mostra teve como curadora Claudia Brack, além de Júlio Cherém e Ronaldo Benevello arquitetos da FPJ,
responsáveis pela pesquisa nos arquivos municipais e pelo resgate, junto à
família do paisagista de projetos,além das plantas dos arquivos da FPJ e outros documentos que retratam a obra de Azevedo Neto e as
transformações que a Cidade sofreu na primeira metade do século XX.
Neste post, algumas plantas e fotos encontradas na internet nos conduzem através do tempo pela cidade e algumas das obras mais significativas do paisagista. A começar pela Praça Edmundo Rego.
Praça
Edmundo Rego, Grajaú
Um dos primeiros
projetos de Azevedo Neto, a praça foi inaugurada em fevereiro de 1935, no
centro do bairro do Grajaú. De contorno circular, praça contava com um coreto
central, dois chafarizes circulares e dois pergolados de concreto, com cinco
pilares de cada lado.

projeto da praça marco da inauguração
Nas transformações que
ocorreram na praça, o primeiro elemento original a ser demolido foi o coreto de
concreto, fonte de reclamações em função do abandono da construção que incluía
um bar no primeiro piso.
No início dos anos 90,
foi a vez dos chafarizes, que desativados, foram aterrados para a implantação
de jardins em suas bacias. Contudo, em 1998 a Prefeitura optou por recuperar os dois
chafarizes que voltaram a funcionar normalmente.
Em 2002, uma nova
reforma cobriu o piso de granito e blocos de concreto, demoliu e aterrou os
chafarizes, mas manteve parte dos canteiros e os caramanchões originais do
projeto de Azevedo Neto, tombados provisoriamente, pelo recente Decreto n°
39102 de 19 de agosto de 2014.
Jardim de Alah, Leblon
O
traçado projetado para o Jardim de Alah concebido por Azevedo Neto baseou-se
no modelo francês, de inspiração romântica e contemplativa, com canteiros
harmoniosos, repartidos e preenchidos por esculturas, lagos e caramanchões.
A proposta, muito mais que o paisagismo para um jardim ou a urbanização de uma área de restinga na verdade, concluía o projeto do Prefeito Carlos Sampaio, de urbanização do canal destinado a renovar as águas da Lagoa Rodrigo de Freitas, tornando-as mais salubres além de reduzir a frequência de enchentes na região.
As obras foram
concluídas em 1922 e o canal guarda
ainda a pedra inaugural junto à pequena escada de acesso, próximo à Avenida
Vieira Souto, onde estão registrados os nomes do Presidente Epitácio Pessoa, do Prefeito Carlos Sampaio e
do engenheiro Saturnino de Brito.
Em 1936
a construção de uma segunda ponte sobre o canal do Jardim de Alah, entre as
avenidas Visconde de Pirajá e Ataulfo de Paiva, permitiu a implantação total do
projeto, inaugurado em 1938. O projeto, de forte potencial turístico, previa a
navegação no canal por gôndolas em passeios até a Lagoa e para isso, deques
para embarque e desembarque de pessoas.
Em 2003, na administração do Prefeito Cesar Maia, o Jardim de
Alah foi totalmente reformado pela Prefeitura do Rio. Sua reinauguração, em 20
de dezembro, contemplou a recuperação dos pergolados e treliças de madeira,
cuidados e replantio de árvores, principalmente algodoeiros da praia. Os lagos
foram reduzidos e recobertos por seixos rolados, as topiarias
e folhagens de contorno suprimidas, priorizando as áreas gramadas.
A escultura "Proteção", de Hipollyte
Peyrol, original da Praia de Botafogo e transferida por ocasião da inauguração
do Jardim em 1937, bem como a obra " A Mulher e o Felino" foram
preservadas no lugar.
Praça Antero de Quental, Leblon
A praça foi inaugurada
em 3 de julho de 1942. O investimento, à época, correspondeu a CR$ 219 500,00
(duzentos e dezenove mil e quinhentos cruzeiros).
De caráter contemplativo, o projeto de Azevedo Neto para o local incluía dois lagos e pérgolas de colunas em concreto revestidas e cobertas por madeira. De traçado regular, a praça possuía no centro um lago cercado por canteiros e alamedas em saibro que contornavam todo o perímetro da praça. Os pergolados uniam as alamedas entre os canteiros ajardinados.
Em 1962 a praça passou pela
primeira obra de reforma destinada à implantação de uma área para recreação
infantil. Além do playground, com balanços, escorregas e gangorras, as calçadas
do entorno foram pavimentadas mas o traçado geométrico foi mantido.
Com
a execução do Projeto Rio Cidade, em
1996, Praça Antero de Quental foi totalmente reformada, segundo projeto do
arquiteto Luiz Eduardo Indio da Costa e do paisagista Fernando Chacel, que
procurou manter o uso familiar e recreativo do espaço. Novos canteiros passaram
a embelezar o entorno da praça e foram mantidas as áreas destinadas às crianças
e à livre circulação. Junto à Avenida Athaulfo de Paiva foi construída uma
grande pérgola em chapa metálica, lembrando um pórtico de entrada.
Apos o final das obras do metro da cidade, em 2016, a praça recebeu novo tratamento paisagístico.
Praça Cardeal Arcoverde, Copacabana
Inaugurada em 22 de novembro de 1947 pelo Prefeito
Mendes de Moraes, a praça apresentava um traçado orgânico, repletos de curvas e
linhas sinuosas com um laguinho de plantas aquáticas no centro. Pequenas pontes
com guarda corpo de ferro cruzavam o lago.
Nos anos 60 a praça perdeu parte de sua
área. Na ocasião, o projeto original de
Azevedo Neto foi aniquilado, dando lugar a uma nova concepção de formas
retilíneas.
Em 1987, a praça foi
fechada para expansão do Metrô e reaberta em 1994, com nova ordenação em função
da estação ali instalada.
Praça General Osório, Ipanema
O primeiro ajardinamento da praça aconteceu em 1909
mas, em 1911 uma remodelação propiciou a implantação do Chafariz das Saracuras,
oriundo da demolição do Convento da Ajuda.
Em
8 de maio de 1948 a praça foi reinaugurada pelo Prefeito Mendes de Moraes, com
projeto de Azevedo Neto, que dotava a área com dois lagos de formas sinuosas
nas extremidades da praça e mantinha, ao centro, o Chafariz das Saracuras como
ornamento, porém seco, sem jorro de água. Extensos jardins contornavam a área
com bancos de concreto ao redor.
Em
1970 uma reforma na pavimentação da praça substituiu o saibro e as placas de
concreto por pedras portuguesas nas áreas central e circundante. E, em mais uma intervenção, em 1987, a praça
perdeu os lagos laterais, mas ganhou um novo entorno para o chafariz que desde
então voltou a verter água, como no Convento da Ajuda.
Contudo,
logo depois, parte da praça foi cercada com tapumes para servir de depósito de
material para a futura estação do Metrô. Com o atraso e a paralisação das
obras, em 1994 a praça foi reaberta e passou por nova reforma em 2001 que
instalou grades no seu entorno, recuperou os jardins e o funcionamento do
chafariz.
Mais
tarde, as obras do Metrô foram retomadas a estação da Praça Gal Osório
inaugurada em 2009.
Praça Saens Pena, Tijuca
O
ajardinamento da Praça Saens Pena data de 1910, durante a administração do
Prefeito Bento Ribeiro. O projeto de Azevedo Neto para o local foi implantado
em 1947, com inauguração em 22 de novembro, na administração do Prefeito Mendes
de Moraes.
Executado pela firma L. Quattroni, a proposta contemplava o espaço com um lago de concreto com repuxos e um jato, canteiros e piso de pedra portuguesa decorada, além de garantir a permanência do coreto.
Executado pela firma L. Quattroni, a proposta contemplava o espaço com um lago de concreto com repuxos e um jato, canteiros e piso de pedra portuguesa decorada, além de garantir a permanência do coreto.
Em 1977, com a
implantação do Metrô, a Praça Saens Peña passou por uma grande intervenção que,
entre outras mudanças, removeu o coreto transferindo-o para do para a Praça
Catolé do Rocha, em Vigário Geral.
Praça Nobel, Grajaú
Construída em 1940, a
Praça Nobel é outro importante projeto de Azevedo Neto. De traçado retilíneo e
canteiros centrais, a praça predominantemente contemplativa apresentava como
elemento decorativo um belo pergolado revestido de pedra no trecho lateral,
aproveitando a elevação do terreno.
Apesar das
transformações sofridas nos últimos anos para implantação de equipamentos
voltados para novos usos, o pergolado de outrora sobrevive como um pequeno
recanto contemplativo do projeto original.
A implantação de pequenos
recantos ajardinados ao longo da Av. Edson Passos, executados
pela Sociedade Brasileira de Urbanismo, ocorreu por volta de 1941 tendo custado
à época, a importância de CR$ 59 800,00 (cinquenta e
nove mil e oitocentos mil cruzeiros. O plantio, iniciado de 25 de julho de
1942 e concluído em 24 de janeiro de 1943, coube ao Departamento de Parques da
Prefeitura, hoje Fundação Parques e Jardins
Dentre os muitos
jardins criados pelo paisagista, os do Alto da Boa Vista são que se mantém mais
íntegros, com destaque para os lagos e as obras de arte que os integram.
Avenida Vieira Souto e Delfim Moreira, Ipanema
Nos anos 40, por iniciativa do
prefeito Mendes de Moraes, o projeto criado por de Azevedo Neto, foi implantado
ao longo das avenidas, recuperando a vegetação de restinga. A proposta incluía
o plantio de coqueiros e alguns quiosques de sapê. Além de embelezar, o
tratamento paisagístico da margem de areia da praia, tinha como objetivo
diminuir o carreamento de areia para as avenidas.

Praça Piaçava, Lagoa
A
praça ficava situada nas margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Fonte da
Saudade. Construída na década de 40 (1940-49) acabou desaparecendo com as
obras para o acesso ao Túnel Rebouças.
Praça Belmonte, Olaria
A praça foi construída nos anos de 1940, com um coreto de concreto armado sobre um riacho que corta a praça, unidos os dois lados. Situada a margem da Rua Delfim Carlos, a praça era inicialmente composta por canteiro ajardinados, com o coreto no seu centro. Nos anos de 1990 teve parte de sua área ocupada por uma escola publica reduzindo a área livre. Nos anos de 2000 recebeu outra reforma para ser utilizada como espaço esportivo, contudo a coreto permanece numa referencia ao passado e de pertencimento do bairro.