Uma das histórias mais
curiosas a respeito dos monumentos de nossa cidade é a que trata da estátua do “Inverno”,
de autoria do escultor francês Mathurin Moreau e parte da coleção em ferro
fundido do Val D’Osne, instalada no Passeio Público.
No início dos anos 90,
atendendo solicitação das Fundições Francesas do Val D’Osne que catalogava suas
peças espalhadas pelo mundo, a Prefeitura do Rio promoveu um levantamento
destinado a identificar e localizar o acervo existente na cidade.
Até então, os arquivos e a
documentação municipal contemplavam quase que com exclusividade os registros
referentes a obras em homenagem a personalidades e fatos relevantes da
história, deixando de lado esculturas e equipamentos urbanos, desconsiderando
valores artísticos e/ou emocionais das comunidades em que se inseriam.
Eis que durante o
levantamento iconográfico das peças em ferro fundido francês instaladas no
Passeio Público observou-se que o conjunto representativo das estações do ano,
de Mathurin Moreau, possuía apenas 3 peças: o “Verão”, o "Outono"
e a "Primavera",
faltando para formar o conjunto uma escultura alusiva ao "Inverno". Em
seu lugar, provavelmente para “fechar” o quarteto, havia uma “Diana de Gabis”,
também pertencente às coleções do Val D’Osne, e que havia sido transferida para a Praça Barão da Taquara,
(conhecida como Praça Seca) em data e por razões também desconhecidas.
Voltando ao “Inverno”
do Passeio Público: Para aumentar o mistério da
estátua “sumida”, o catálogo original das peças de Val D’Osne não trazia
qualquer desenho que mostrasse a peça, o que permitiria sua identificação ou, a
confecção de uma réplica, caso sua existência no local fosse comprovada.
Enquanto as buscas em
catálogos por uma “imagem” de como seria a representação criada por Mathurin
Moreau movimentavam pesquisadores e aguçavam a curiosidade, adotou-se uma
“justificativa popular” para explicar o conjunto desfalcado: Dizia-se que o
paisagista francês Auguste Glaziou, que reformulou o parque em 1860, não
incluiu a escultura do Inverno porque no Rio de Janeiro não
havia essa estação para representar. "No
Rio não tem Inverno” teria dito ele.
Somente em 1998, com ajuda do
advogado Francisco José Andrade Ramalho que localizou e apresentou uma foto do
conjunto similar e completo que havia em Montevidéu foi possível visualizar o “Inverno”
de Mathurin Moreau. Verifique a historia - http://www.passeiopublico.com/htm/sec21-05.asp
Ao contrário do que se
pensava, era uma figura feminina inspirada na deusa romana Vestal, protetora
dos lares e templos e associada ao fogo sagrado. A escultura possuía
originariamente uma lamparina aos pés e uma das mãos se aquecia com o calor do
fogo.
De posse da imagem, faltava
descobrir se o Inverno fazia parte do conjunto original do Passeio Público, e,
se lá não estava, qual seu paradeiro.
A escultura foi localizada nos jardins do Centro Cultural
Laurinda Santos Lobo, no bairro de Santa Teresa, desfazendo o folclore de que
Glaziou não havia encomendado a escultura do inverno para a Cidade.
O conjunto em ferro fundido das Estações do Ano de Mathurin Moreau é único em nossa cidade. Não há registro de peças semelhantes em outros locais.
De tempos em tempos o
interesse e a necessidade de preservação do conjunto do Passeio Público
mobilizam as esferas públicas. Em 2000, durante o projeto de restauração do
parque, a escultura do Inverno de Mathurin Moreau foi
retirada do Centro Cultural Laurinda Santos Lobo e transferida para o parque,
recompondo o conjunto das estações do ano. A remoção foi acompanhada com
tristeza por muitas senhoras do bairro e que por anos se reuniram, em oração,
aos pés daquela que acreditavam ser uma santinha.
Apesar dos esclarecimentos
quanto à origem e autoria, o porquê de a escultura do Inverno ter sido
instalada em Santa Tereza, é a parte da história ainda não desvendada. Quem
sabe, Glaziou considerou o bairro, localizado numa encosta, o único local com
ares de montanha suficiente para justificar a presença dessa estação de ano na
cidade? Mas isso é uma outra história...