Esta história se iniciou com a descoberta de algumas fotos antigas do Monumento aos Dezoito do Forte nos arquivos da Prefeitura do Rio de Janeiro, datadas de 17 de setembro de 1959.
Na pesquisa, eu verifiquei que o busto em homenagem a Siqueira Campos – obra de H. Bertazzoni – tinha sido inaugurado em 16 de julho 1937. Ele foi instalado inicialmente na Avenida Atlântica, em frente a um cassino, e atualmente está na Praça Eugênio Franco, na entrada do Forte de Copacabana.
Contudo, matéria publicada na revista Veja de 10 de julho de 1974 traz o seguinte relato:
“Em 1932, o Major-aviador Carlos Saldanha da Gama Chevalier e o jornalista Rodolfo Dantas imaginaram uma festiva subscrição popular para custear o monumento. Chevalier, um participante secundário do levante do forte, recorda: ‘Tudo se fez para arrecadar dinheiro, chás dançantes, corridas de Jockey e uma excursão da Miss Brasil da época, Yolanda Pereira, levantando contribuições’.
Com 57 contos de réis arrecadados, foi possível encomendar o trabalho do escultor e, com a sobra, pagar a fundição. A estátua da Siqueira Campos ficou pronta, mas dividido em três partes, sem a solda final, foi deixado muito tempo no Forte de Copacabana, aguardando as providências municipais que o transformaram o monumento público.
Do Forte foi levado ao Arsenal de guerra, onde esteve sob ameaça de ser fundido. ‘Felizmente, ele escapou desse destino’, suspirou Chevalier, ‘mas desapareceu’. Tornou a surgir, há poucos meses, provisoriamente montado no 25º Batalhão de Pára-Quedistas, no distante Campo dos Afonsos dos subúrbios cariocas, graças a um telefonema anônimo para a redação de um jornal.
Recuperado, o monumento aos 18 do Forte foi finalmente erguido na praia de Copacabana. Exatamente como havia sido planejado quarenta anos antes, a não ser por uma pequena alteração: na placa comemorativa, foram trocados os nomes dos colaboradores originais pelos do Governador e do Secretário de Obras do Estado, e se homenageou também o vice-presidente da República, Adalberto Pereira dos Santos, convidado à cerimônia.”
Em outra matéria, publicada pelo jornal O Globo no dia 7 de julho de 1974, existe o seguinte relato:
“Para perpetuar a memória dos que sucumbiram nos dias ‘05 de julho’ e como uma consagração a quantos neles tomaram parte, foi lançada a idéia de erguer-se um monumento, o qual, entretanto, ainda não foi concretizado, ‘(à época deste relato – 17/09/1944)’, senão em parte, com a ereção do grande marco comemorativo, existente na Praça Eugênio Franco, nas proximidades do Forte de Copacabana. Vitorioso o movimento revolucionário de 1930, houve quem sugerisse a idéia da construção de um monumento aos heróis de Copacabana, ou aos ‘Dezoito do Forte’, como ficou conhecido a revolta de ‘05 de julho de 1922’. Foi o principal animador dessa iniciativa, o Tenente Carlos Chevalier. As subscrições abertas apresentaram, imediatamente, parcelas apreciáveis. Foi encarregado de organizar o projeto e levar a termo a obra o escultor Jose Rangel. O Prefeito do Distrito Federal Sr. Pedro Ernesto prontificou-se a ceder o material necessário a construção do pedestal. As pedras foram trabalhadas no morro da Viúva e ali ficaram aguardando transporte para o local. Também à figura do soldado em bronze no Arsenal de guerra, ai permaneceu à espera de condução.
Em resumo o monumento não foi inaugurado.
Em 1943, o Coronel Euclides Hermes da Fonseca e outros oficiais reviveram a idéia da homenagem inexplicavelmente abandonada, e procuraram o prefeito desta capital a quem expuseram os propósitos de concluir a tarefa iniciada. Entretanto, a vista da impossibilidade da construção do monumento com a brevidade que seria de desejar, o prefeito sugeriu – e a sugestão foi aceita – que se levantasse um marco comemorativo dos dois ‘05 de Julho’ na praça Fronteira ao Forte de Copacabana, até que fosse efetivada a construção do grandioso monumento que deverá recordar os dois fatos históricos em homenagem aos que tomaram parte nos dois movimentos revolucionários desta capital e de São Paulo. É esse o grande marco que se ergue no centro da praça Eugenio Franco.”
Com base nestas informações, eu formulei a hipótese de que a estátua de Siqueira Campos foi executada no inicio dos anos 1930, mas o monumento ao Levante aos Dezoito do Forte, idealizado por José Rangel, não foi construído. Com uma estátua inacabada, ergue-se em 1937 o busto em sua homenagem.
Provavelmente com a transferência do busto para a praça, ficou evidente a dupla homenagem, isto é, uma: a estátua e o busto.
As fotos iniciais são da retirada da estátua em 1959. As matérias da imprensa confirmam que ela esteve sumida até 1974, quando foi descoberta no 25º Batalhão de Pára-Quedistas, no Campo dos Afonsos.
Esta carta do brigadeiro Eduardo Gomes ao secretario de Obras confirma a solicitação da estátua na Avenida Atlântica:
“Exmo. Sr. Dr. Emílio Ibrahim
M..D. Secretário de Estado
Só agora, por motivo de saúde, posso agradecer a V. Exa. a carta que me dirigiu a 24 de outubro p.p, a propósito do monumento que se pretende erigir em memória do ‘heroísmo e bravura dos combatentes que não se renderam’ a 5 de julho de 1922.
Muito me sensibilizaram quer as expressões daquela missiva, quer a intenção do Governo do Estado, do qual V. Exa. é autorizado intérprete, de localizar o referido monumento, tanto quanto possível, no mesmo local em que tombaram os bravos na missão do holocausto.
Em resposta à consulta de V. Exa. nesse particular, incumbe-me confirmar que o exato local é o mencionado pelo historiador Glauco Carneiro no trecho que V. Exa. teve o cuidado de trasladar da obra ‘O Revolucionário Siqueira Campos’, de autoria do mesmo escritor.
Peço a V. Exa. se digne de transmitir ao Exmo. Sr. Governador Antônio de Pádua Chagas Freitas a reiteração de meu sincero reconhecimento pela honrosa iniciativa de seu Governo.
Peço-lhe ainda aceitar com iguais agradecimentos, a segurança de apreço e estima pessoal, com que me subscrevo. De V. Exa. Patrício e admirador obrigado Brig. Eduardo Gomes.
Rio, 6 de dezembro de 1973”
Uma das placas do Monumento a Siqueira Campos, situado na Avenida Atlântica, esquina com a Rua Siqueira Campos, confirma a solicitação do brigadeiro Eduardo Gomes e a instalação da obra. O texto da placa diz: “Monumento aos Dezoito do Forte de Copacabana, inaugurado a 05 de julho de 1974 com a presença do Vice-Presidente da República do Exército Adalberto Ferreira dos Santos e representando o Presidente da República General de Exército Ernesto Geisel e do Governador Chagas Freitas e do Brigadeiro Eduardo Gomes.”
A relação deste monumento com o existente na Praça Eugênio Franco é evidenciada na placa de bronze em baixo-relevo fixada na lateral do pedestal. Em ambos os monumentos está fixada a mesma cena dos militares caminhando pela Avenida Atlântica.
Provavelmente com a transferência do busto para a praça, ficou evidente a dupla homenagem, isto é, uma: a estátua e o busto.
As fotos iniciais são da retirada da estátua em 1959. As matérias da imprensa confirmam que ela esteve sumida até 1974, quando foi descoberta no 25º Batalhão de Pára-Quedistas, no Campo dos Afonsos.
Esta carta do brigadeiro Eduardo Gomes ao secretario de Obras confirma a solicitação da estátua na Avenida Atlântica:
“Exmo. Sr. Dr. Emílio Ibrahim
Só agora, por motivo de saúde, posso agradecer a V. Exa. a carta que me dirigiu a 24 de outubro p.p, a propósito do monumento que se pretende erigir em memória do ‘heroísmo e bravura dos combatentes que não se renderam’ a 5 de julho de 1922.
Muito me sensibilizaram quer as expressões daquela missiva, quer a intenção do Governo do Estado, do qual V. Exa. é autorizado intérprete, de localizar o referido monumento, tanto quanto possível, no mesmo local em que tombaram os bravos na missão do holocausto.
Em resposta à consulta de V. Exa. nesse particular, incumbe-me confirmar que o exato local é o mencionado pelo historiador Glauco Carneiro no trecho que V. Exa. teve o cuidado de trasladar da obra ‘O Revolucionário Siqueira Campos’, de autoria do mesmo escritor.
Peço a V. Exa. se digne de transmitir ao Exmo. Sr. Governador Antônio de Pádua Chagas Freitas a reiteração de meu sincero reconhecimento pela honrosa iniciativa de seu Governo.
Peço-lhe ainda aceitar com iguais agradecimentos, a segurança de apreço e estima pessoal, com que me subscrevo. De V. Exa. Patrício e admirador obrigado Brig. Eduardo Gomes.
Rio, 6 de dezembro de 1973”
Uma das placas do Monumento a Siqueira Campos, situado na Avenida Atlântica, esquina com a Rua Siqueira Campos, confirma a solicitação do brigadeiro Eduardo Gomes e a instalação da obra. O texto da placa diz: “Monumento aos Dezoito do Forte de Copacabana, inaugurado a 05 de julho de 1974 com a presença do Vice-Presidente da República do Exército Adalberto Ferreira dos Santos e representando o Presidente da República General de Exército Ernesto Geisel e do Governador Chagas Freitas e do Brigadeiro Eduardo Gomes.”
A relação deste monumento com o existente na Praça Eugênio Franco é evidenciada na placa de bronze em baixo-relevo fixada na lateral do pedestal. Em ambos os monumentos está fixada a mesma cena dos militares caminhando pela Avenida Atlântica.