A “Harmonia”, que está no Largo dos Leões, em ferro fundido, foi instalada, a princípio, em uma estação de tratamento da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Posteriormente, a peça foi doada à cidade do Rio de Janeiro e, então, transferida para o espaço público.
Já o exemplar que ficou conhecido como “Bica da Mulata”, em ferro fundido, tem uma longa história de disputa entre os municípios do Rio de Janeiro e de Belford Roxo.
Do pesquisador Guilherme Peres, membro do Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB), tem-se o seguinte relato: “A estação de trem recebeu este nome em homenagem a Raimundo Teixeira Belford Roxo, chefe da 1ª Divisão da Inspetoria de Águas. Havia em frente a esta estação um artístico chafariz de ferro jorrando água, que o povo denominou de ‘Bica da Mulata’, cuja figura mitológica de uma mulher branca sobraçando uma cornucópia oferecia aos passantes o líquido precioso, que a oxidação do ferro transformou em ‘mulata’, e era uma cópia da estátua existente na Pavuna.”
Registros e descrições de uma mesma fonte em duas localidades resistem ao tempo. Há relatos de que a peça foi roubada na década de 1950 e, depois, encontrada no bairro da Pavuna, na cidade do Rio de Janeiro. Diz-se também que foi instalada inicialmente na Rua Tavares Guerra, atual Avenida Nossa Senhora das Graças, quando o bairro ainda pertencia a Nova Iguaçu. Outra informação dá conta de que a bica foi instalada no Largo da Pavuna e “desapareceu” em meio às obras do Metrô, nas expansões de 1984.
Há ainda quem diga que a escultura foi encontrada na década de 1990 em um depósito de obras da prefeitura do Rio de Janeiro, na Avenida Automóvel Clube, durante as obras de construção de um viaduto e de restauração do bairro pelo Sr. Isaías Ribeiro, comerciante local, fundador e presidente da Associação Comercial da Pavuna, que prometeu recolocá-la em seu devido lugar.
Finalmente, no ano de 1995, a peça de Pradier foi instalada no recém-emancipado município de Belford Roxo, através de um termo de cessão de uso, assinado pelo prefeito do Rio, o que pressupõe ser a escultura um bem do patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
No ano 2000, conheci a inquietação dos moradores da Pavuna através de inúmeras solicitações de que fosse recuperada a “Bica da Mulata” como o marco do início da ocupação do bairro. Não encontrando documentação que comprovasse a procedência, considero que a hipótese mais plausível é de que, no passado, havia uma única peça, que era constantemente transferida da Pavuna para Belford Roxo, e vice-versa, pelos moradores, com o objetivo de resgatar a identidade dessas duas localidades.
Enfim, em 2002, foi fundida uma réplica da “Harmonia”, em bronze, da que está no Largo dos Leões, para ser instalada na Pavuna, o que somente se concretizou no dia 3 de julho de 2012, quando foi inaugurada ali a atual “Bica da Mulata”, passando a ser três as peças de Pradier no estado do Rio de Janeiro.
Em fevereiro de 2014, a peça foi furtada no dia 5 de fevereiro de 2015 e realizado o registro policial na 39º DP. Finalmente em 27 de junho de 2015, novamente foi reinstalada uma outra réplica da escultura, atendendo o pleito dos moradores do bairro, retornando o conjunto de tres obras semelhantes
Jean-Jacques Pradier, exímio escultor das formas sensuais e acadêmicas, teve grande reconhecimento artístico em 1986, no Museu de Luxemburgo, com a exposição “Estátuas de Carne”, da qual fez parte sua “Harmonia”, encontrada no Rio de Janeiro, como um dos mais belos exemplares do Haute-Marne, das fundições francesas do Val D’Osne. Peças como essa, de ferro fundido, costumavam ser apresentadas em pranchas aos compradores, que as escolhiam para ser reproduzidas de seus moldes originais, o que permitiu que tais esculturas se espalhassem pelo mundo.
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