Ao longo de dois séculos de permanência no Brasil, os jesuítas criaram várias aldeias, sendo que algumas delas alcançaram um certo poderio político e econômico, após seu importante papel na integração dos índios à Colônia.
O inicio da ocupação da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro aconteceu com Cristóvão Monteiro, ouvidor-mor do Rio de Janeiro e morador de São Vicente, casado com Marquesa Ferreira e pai de dois filhos, recebeu uma sesmaria de terras que ia de Sapiaguara a Guaratiba. Com a morte de Cristóvão, a Marquesa resolveu dividir as terras de Guaratiba e Guarapiranga em duas partes iguais. Doou uma parte à filha Catarina, e outra à Companhia de Jesus. Catarina, no entanto, também cedeu sua parte à Ordem de Santo Inácio: esta foi a gênese da fazenda de Santa Cruz. A posse se deu no ano de 1589 e, a partir de então, essas terras jesuíticas passariam por algumas aquisições, aumentando sua capacidade produtiva.
A Fazenda de Santa Cruz tinha dez léguas quadradas em seu auge produtivo e era considerada a mais importante propriedade do sul do Brasil. Contava com milhares de escravos, além de técnicas avançadas para a época. Chegou a ter 22 currais, onde eram criados gado vacum, equinos, suínos, caprinos e ovinos, fora os animais domésticos. Entre outros produtos, cultivava feijão, mandioca, fumo, algodão e cacau, destacando-se a produção de açúcar, arroz e farinha. Contava também com manufaturas, que atendiam às necessidades internas, como era comum nas grandes propriedades do período colonial. A fazenda abrigava olaria, ferraria, carpintaria, serraria, fábricas de cerâmica, de canoas, de móveis e de artigos em couro, tanoaria, atividades de ourives, de prateiros e de tecelagem, forno de cal, casa de farinha, engenhos, oficinas de descasca de arroz, engenhoca de aguardente e engenho de açúcar.
Para interligar a Fazenda de Santa Cruz à região de São Cristóvão, os jesuítas abriram uma estrada e construíram a Ponte dos Jesuítas, feita em 1752. Concebida pelo padre Pero Fernandes, a ponte tinha função de regularizar o fluxo das águas na baixada, promovendo a irrigação natural para manter os níveis de umidade dos pastos e evitando inundações. A ponte foi feita de pedras sobre o Rio Guandu, daí um dia ter sido chamada de Ponte do Guandu, ou ponte D. Pedro I
Para que a Ponte dos Jesuítas cumprisse seu papel, foram traçados mapas com a rede hidrográfica, as elevações, os vales, os morros e as depressões. Dois jesuítas foram pesquisar na Holanda – país que possuía problema semelhante – os procedimentos que deveriam ser adotados. Assim, eles concluíram que se deveria conter o leito dos rios nos pontos de inundação e abrir valas e canais para o escoamento das águas, que seriam manobradas conforme a necessidade, solucionando os problemas tanto de enchentes como de secas
Funcionando como comporta, a Ponte dos Jesuítas possui arcos em cantaria de dimensões variadas, que eram deixados abertos para o escoamento natural do rio ou fechados para represá-lo, a fim de que o excesso de água refluísse para cima, indo vazar pelo canal que havia sido construído com esse fim (atual “valinha”), desviando parte das águas para o Rio Itaguaí
Com seus 50m de extensão e 6m de largura, a Ponte dos Jesuítas servia também como passagem para tropeiros e pedestres que iam e vinham do interior em direção ao Rio de Janeiro.
Do lado do reservatório,a ponte possui quatro arcos, os óculos, que retinham a água – na saída, a velocidade era reduzida com a divisão dos canais em duas paredes
Uma represa que permitisse o melhor desenvolvimento das colheitas representava um grande avanço na época. O marco da presença jesuíta e sua capacidade artística foram expressos nessa construção. Um medalhão barroco, esculpido em gnaisse no centro da ponte com o símbolo jesuíta, enriquecem a obra: I.H.S. ( “Jesus Salvador dos Homens”).
A ponte traz também a seguinte inscrição em latim: “Flecte genu, tanto sub nomine, flecte viator. Hic etiam reflua flectitur amnis aqua” (“Dobra o joelho sob tão grande nome, viajante. Aqui também se dobra o rio em água refluente”). É também ornamentada por colunas com capitéis em forma de pinhas portuguesas, esculpidas em pedra, trabalhadas com cinzel.
Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, a fazenda foi incorporada aos bens da Coroa e ficou subordinada diretamente ao vice-rei, passando a produção por um período de decadência.
Foi só a partir de 1790 que seu desenvolvimento recebeu maior atenção da metrópole. Assim, a plantação de cana-de-açúcar e a construção de engenhos foram incentivadas, mas não houve o resultado esperado e a produção passou por novo declínio, com a consequente venda de terrenos. Com a carta régia de 7 de novembro de 1803, foram desmembradas de sua área os engenhos de Itaguaí e Piaí, o que agravou a situação de decadência da Fazenda de Santa Cruz, cuja pequena renda era obtida da exploração dos arrendamentos, pastos e extração de madeira.
Com a canalização do rio Guandu, o conjunto arquitetônico da Ponte dos Jesuítas foi destituído de sua função original, mas constitui um dos mais belos e raros monumentos da arquitetura jesuítica no Rio de Janeiro, sendo consagrada por sua importância histórica e arquitetônica desde 1938, com o seu tombamento nacional.
Veja o video: http://www.youtube.com/watch?v=8U_cYpjMgp0
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